“Lion – A Longa Estrada para Casa” de Garth Davis
Dói, dói só de ver… e de imaginar como deve ter sido.
São mais de 80.000 as crianças que a cada ano são dadas como desaparecidas na Índia, país de estrondosos contrastes culturais, sociais e económicos. Imaginem à 25 anos atrás!
Esta é a história de uma dessas crianças, Saroo Brierley. De que como era a sua vida com a mãe e irmãos, de como se perdeu, do que teve de superar ao longo de vários dias, semanas, meses, até finalmente encontrar um lar e de como, décadas mais tarde, decidiu procurar as suas origens.
É um retrato, também, de como a tecnologia mudou as nossas vidas e de muitos outros que nem sonhavam da sua existência. Pode parecer demasiada indiferença, perante tamanha comoção, reduzir o enredo a algo tão mundano mas, ainda que de forma bem subtil, também é disso que fala este filme.
Saroo – que delicioso o desempenho do jovem Sunny Pawar – era um menino como muitos outros na sua vila. Entre as brincadeiras com os irmãos, especialmente com o irmão mais velho, Guddu, o qual fazia questão de acompanhar mesmo nas situações mais inadequadas, e o afeto da sua mãe, a sua infância seria perfeitamente normal.
Até que um dia, num daqueles acasos da vida, tudo irá mudar para sempre! De forma totalmente inacreditável e inexplicável (não fosse uma história verídica, ninguém lhe daria o mínimo de credibilidade) o jovem menino irá acabar na imensa Calcutá. Sem possibilidade de fazer a viagem de regresso, os próximos meses serão recheados de peripécias, riscos e emoções arrebatadoras.
Anos mais tarde, numa situação de vida totalmente distinta e incomparável, o jovem adulto (Dev Patel), agora a viver na Austrália, será confrontado com a possibilidade (mesmo que imensamente remota) de reencontrar a sua família. Algo impossível de sentir e descrever, que não pelo próprio.
Como se pode perceber pela discrição, Dev Patel, Nicole Kidman e Rooney Mara, acabam por ter um papel bastante diminuto no filme. O jovem ator de origem indiana consegue, apesar do “curto tempo de antena”, encontrar espaço para se destacar dos demais mas a grande estrela do filme é mesmo Sunny Pawar.
Muito se falou de um menino que cresceu dentro de um quarto ou de outro que via “pessoas mortas” mas o desempenho, do menino de Bombaim, é transcendente.
Não consigo perceber como um miúdo de tão tenra idade pode ter a capacidade para tal desempenho mas aos 7/8 anos, é inimaginável o que ele consegue transmitir.
Já Garth Davis, um realizador totalmente desconhecido do grande público, assina a obra de uma vida. Um projeto com um “parto” difícil que teve de ultrapassar variados obstáculos até ver a sua do dia mas que se manteve fiel à sua história e ao seu legado.
Arrebatador é o mínimo que se pode dizer a respeito de um dos filmes mais impressionantes do ano. Um filme difícil de digerir mas que sem grandes artefactos ou maneirismos nos remete para o nosso lado mais emocional e humano, não deixando NINGUÉM indiferente!
Dói, dói só de escrever… ?