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“Jackie” de Pablo Larraín

Fica a clara ideia de que Jackie é um daqueles filmes que se ama… ou se odeia.

Um retrato cru, poderoso e visceral dos dias que se seguiram ao assassinato do então Presidente e exemplo maior da política e da sociedade norte-americana, JFK, aos olhos da sua esposa, Jacqueline Kennedy.

Ao contrário do seu marido, Jackie estava longe de ser uma figura consensual na esfera política-social norte-americana. JFK podia ser controverso – especialmente para um país amplamente conservador e retrógrada (vide Hidden Figures) – mas era imensamente respeitado pelo povo e pelas elites. Já Jackie, o seu gosto por festa, remodelações e alguma ingenuidade eram alvo de extrema desconfiança.

Os 4 dias que se seguiram à morte do seu marido, foram determinantes para Jackie (Natalie Portman) definir o legado dele mas foram, igualmente, fundamentais para a própria deixar a sua marca na História norte-americana.
Alguns dias depois, de certa forma pressionada pela imprensa sensacionalista, Jackie decide contar a um jornalista (Billy Crudup), a sua versão da História. A dor, a raiva, o desespero, a solidão e a determinação de uma mulher, mãe e esposa perante o maior dos traumas.

Palavra de relevo, igualmente, para Pablo Larraín. O realizador peruano – que já conhecemos de No – demonstra extrema determinação e coragem ao entregar, por completo, o filme a Portman.
Durante os 100 minutos de filme, a câmara tem quase sempre Jackie como referência, e Portman é irrepreensível, captando os muitos maneirismos de então, primeira-dama norte-americana.
Sob o olhar privilegiado da primeira-dama, percorremos até ao mais ínfimo detalhe aqueles fatídicos 4 dias mas, igualmente, alguns dos momentos mais marcantes da vivência de Jackie na Casa Branca.

Junto a Portman, encontramos… uma banda-sonora desconcertante. Pode-se não apreciar a “melodia” mas é indiscutível o contributo do trabalho da inglesa Mica Levi para o tom soturno e doloroso do filme. Nada mais do que merecida a sua nomeação para o respetivo Oscar®.

A única coisa que me aborrece é que Jackie é demasiadamente um veículo para Natalie Portman demonstrar o seu enorme talento (à semelhança do que aconteceu, por exemplo, com Iron Lady e Meryl Streep).
O Oscar® seria algo mais do que natural – especialmente com a ausência de Amy Adams entre os nomeados – mas o filme de Pablo Larraín não é necessariamente um crowd-pleasing, e isso pode tornar difícil a consagração da atriz norte-americana, nascida em Israel.

Não é um filme fácil… mas vale bem a pena.

 

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