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“Manchester by the Sea” de Kenneth Lonergan


De longe, o melhor drama desta temporada dos Oscars®.
Um filme poderoso e doloroso que nos põe de joelhos, da forma mais sádica possível. Um “murro no estômago” seria um brutal understatement, como se diz em terras de Tio Sam.

Casey Affleck pode já ter feito este papel um milhão de vezes – será assim tão diferente dos seus registos em The Assassination of Jesse James…, Gone Baby Gone ou, até, Triple 9? – mas desta vez, o seu ar pesado, a voz vagarosa e o olhar perdido encaixam na perfeição com a personagem. Curiosamente, demoramos bastante até perceber o porquê do seu estado “vegetativo” mas a recompensa é proporcional. Assim, de repente, uma história já de si melindrosa, torna-se tema de debate e conversa durante semanas.

Lee Chandler (Affleck) segue a sua vida sem grandes compromissos ou responsabilidades. Tarefeiro de uma série de prédios na zona habitacional de Boston, Lee tem um temperamento tão volátil quanto a sua capacidade para resolver (e meter-se em) todo o tipo de problemas.
Até que a sua existência sonâmbula será implacavelmente abalada pela morte do irmão. De regresso à sua terra natal, Lee tentará lidar da melhor maneira com o trauma e com as responsabilidades acrescidas – especialmente perante o seu sobrinho (Lucas Hedges) – mas algo, no seu passado, teima em não desaparecer. Lee outrora foi feliz – com Randi (Michelle Williams) – em Manchester by the Sea

Kenneth Lonergan demorou 15 anos a chegar aqui. Em 2002, na sua estreia como realizador num modesto filme independente – You Can Count on Me – alcançou a primeira nomeação aos Oscars®, como argumentista. Seguindo-se, 2 anos volvidos, nova indigitação (por Gangs of New York), desta vez numa grande produção e junto ao Mestre Scorsese. Depois disso apenas Margaret, um filme que “ninguém” ouviu falar – apesar a presença de Matt Damon e Anna Paquin. Este percurso levou-o (e a nós) até Manchester by the Sea. Percebe-se muita da sensibilidade evidenciada no seu filme de estreia… o resto é mesmo novidade.

Grande trabalho de direção de atores. Coragem na forma como coloca uma pitada ou outra de humor em momentos de enorme tensão. Total descaramento quando nos coloca, de peito aberto, perante o inexplicável drama de um homem comum. É uma dor que partilhamos, mesmo não querendo.

Casey Affleck – a fazer dele próprio ou não – está irrepreensível! Não é à toa que os prémios têm chegado.
Michelle Williams tem uma breve aparição mas marcante, pontuando de forma profunda cada momento que surge na tela.
Enquanto o jovem Lucas Hedges, aproveita a boleia e com a desfaçatez e jovialidade próprias da idade, deixa no ar ótimas referências.

Igualmente virtuoso, o argumento (original). É certo que de uma forma quase doentia mas é realmente profundo e arrebatador. Sem querer parecer um “disco riscado” só é mesmo pena que o finalzinho seja tão preguiçoso quando comparado com o restante enredo.

A última imagem pode não ser a melhor mas, no seu todo, Manchester by the Sea é um filme contundente que deixa marcas mas. também, a certeza que há histórias que ganham outra grandeza na 7ª arte.

 

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