“Miss Sloane – Uma Mulher de Armas” de John Madden
Continuamos na rota dos Oscares, desta vez com um dos “injustiçados”.
Com as devidas diferenças este Miss Sloane faz-me lembrar Truth. Dois grandes desempenhos de duas atrizes de imensa qualidade (Jessica Chastain e Cate Blanchett), em filmes incómodos e contundentes que colocam o dedo na ferida (do atual sistema político norte-americano) mas que apesar da sua elevada qualidade acabaram totalmente alheado das nomeações aos Melhores do Ano (excepção feita à nomeação de Chastain para os Golden Globes).
A principal diferença entre eles é que Truth era baseado numa história verídica. Enquanto Miss Sloane deve ser “inspirado” em dezenas delas!
O poder dos lobbies em Washington é algo imutável na atual estrutura política da maior “democracia” do mundo. Empresas de relações públicas com ligações mais ou menos explícitas a grandes grupos económicos e associações sem fins lucrativos, manobram a opinião pública e as decisões dos membros do Congresso em prol dos interesses próprios. É tudo feito nos limites da lei – já ela bem permissiva e subjetiva.
Elizabeth Sloane (Chastain) é uma das mais dedicadas e obstinadas lobistas a trabalhar em Washington que encontrará, na sempre delicada questão das licenças de porte de armas nos EUA, o motivo ideal para mudar radicalmente a sua vida (profissional). Numa luta desigual contra um dos maiores lobbys norte-americanos, não será apenas a sua reputação profissional que será colocada em cima da mesa. Numa guerra sem quartel TODAS as “armas” serão permitidas… até à última cartada!
Apesar da presença de outros nomes grandes como Mark Strong (a fazer papel de ‘bom’) ou John Lithgow, o filme pertence e gira por completo em torno da atriz californiana. À imagem da sua personagem, Chastain está em todo o lado, a toda a hora e com um fulgor impressionante. Controla os tempos e os momentos do filme e merecia, sem dúvida, outra atenção por parte da Academia.
Parece quase incrível como um filme desta qualidade, atualidade e talento passou praticamente despercebido na temporada dos prémios. É verdade que a diversidade cultural assumiu pleno destaque esta ano (depois na controversia levantada o ano passado) mas é uma pena que tenha acontecido “às custas” de filmes como Miss Sloane.
John Madden realizador de filmes tão memoráveis como Shakespeare in Love, The Best Exotic Marigold Hotel ou The Debt (igualmente com Jessica Chastain) volta a assinar um filme irrepreensível que nos prende do primeiro ao último segundo (literalmente!). Enredo inteligente e cativante, bons desempenhos e a qualidade para nos oferecer um desenlace de alto nível.
Podia ser uma história verídica… mas não é.
Ainda assim, ninguém notaria a diferença, tal a qualidade do material apresentado!