“A Idade das Sombras (The Age of Shadows)” de Jee-woon Kim
Ao contrário do cinema ocidental, nomeadamente norte-americano, em que o espetador recebe todos os detalhes históricos necessários para acompanhar a narrativa (real), o realizador Jee-woon Kim opta, deliberadamente, por avançar com a história concentrando-se no filme e deixando a cargo do público a curiosidade de desvendar, antes ou depois do seu visionamento, o enquadramento e detalhes da História.
The Age of Shadows pode seguir a violenta e conturbada relação geopolítica entre o Japão e a Coreia mas o que interessa ao reputado realizador sul-coreano é mesmo a história dos indivíduos que fazem parte desta da História. Um capitão da polícia japonesa, de origem coreana. O líder da resistência coreana. Um jogo do gato e do rato, com consequências imprevisíveis.
A História de dois países, Japão e Coreia (do Sul), agora parceiros económicos e políticos mas, no início do século passado, potências em conflito – o Japão manteve a Coreia ocupada de 1910 até ao final da II Guerra Mundial – teve, certamente, múltiplos episódios que ajudam a compreender melhor as dinâmicas sul asiáticas. Este será, por ventura, um dos mais preponderantes.
Kim Woo-Jin (Yoo Gong) é um dos mais preponderantes membros da resistência coreana. O seu negócio de antiguidades e fotografia é de extrema preponderância para o contrabando (de armas e explosivos) e lavagem de dinheiro da resistência. O escalar da situação e a proximidade das forças policiais japonesas levarão a resistência a “abrir as portas” a um policial japonês, de origem coreana, na tentativa do cativar para a sua causa, tendo Kim como elemento de ligação.
Apesar das suas origens coreanas, Lee Jung-Chool (Kang-ho Song) nunca teve grandes problemas em perseguir e entregar os seus conterrâneos. Essa postura gracejou-lhe uma progressão constante na polícia japonesa, especialmente de entre o contingente destacado em Seoul, capital da Coreia). Mas quando é abordado diretamente pela líder da resistência, Jung Chae-San (Byung-hun Lee), as suas crenças e convicções serão fortemente questionadas, ao ponto de ambos os lados (da barricada) estarem convictos da sua fidelidade.
Tudo será posto à prova, numa decisiva viagem de comboio entre Shangai e Seoul.
A estrutura parece-nos “normal” mas não será à toa que Jee-woon Kim é reconhecido pelo público do Fantasporto… e do cinema fantástico. Por entre o thriller baseado em factos verídicos, o realizador sul-coreano não está por meias medidas e sempre que surge a oportunidade “dá uma dentada” ao cinema mais visceral e/ou explícito.
Nada de muito chocante (digo eu!) mas suficientemente repulsivo para causar algumas náuseas ao público mais sensível ou justificar um bom ombro amigo, aos mais corajosos.
Fora esses apontamentos típicos do cinema sul-coreano, a narrativa é a habitual de um belo filme de suspense e ação. Intriga, traição, espionagem. Todos os condimentos necessários para construir um filme bastante interessante e que ressalva (e de que maneira) o que não nos temos cansados de dizer “Há cinema de qualidade, um pouco por todo o Mundo”.
Um filme obrigatório para quem gosta de descobrir o que de muito bom se faz do outro lado do planeta. Sem exageros, sem complacências. Apenas a mesma paixão pelo cinema.
E muito, muito, talento.
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