Direct-to-DVD
Se havia tema que me entusiasmava durante os largos e bons anos que passei meramente desse lado – como um ávido e apaixonado apreciador de cinema – era a opção entre lançar os filmes nas nossas salas de cinema OU direcioná-los diretamente para o mercado do home video (ou Home Cinema, como se diz cá no Doces ou Salgadas?).
Na altura a disponibilidade permitia ver no cinema todos, ou quase todos, os filmes que me interessavam e quando um desses tesourinhos era remetido para o “direct-to-dvd” a indignação era incontrolável. Como seria possível não estrear o filme nas nossas salas? Porquê a opção por A ou B em detrimento dessas pérolas do cinema? Porquê estrear dois ou 3 filmes com mais de 100 cópias, em vez de deixar algumas salas para ESTES filmes? Eram essas, e outras menos próprias, as questões que me percorriam o espírito ao ter conhecimento de tais opções.
Cheguei tem tempos a seguir um site/blog que, semanalmente, listava os filmes demerecedores do escurinho das nossas salas de cinema.
Atualmente, infelizmente, a disponibilidade já não é a mesma para escolher apenas os filmes que NÃO se quer ver no cinema… e felizmente, o conhecimento do mercado e dos seus muitos intervenientes é consideravelmente superior. Assim, se a preocupação agora é bem mais relativa aos filmes que estrearam nas nossas salas de cinema e que não tive a oportunidade de ver, por outro, o contacto com os diferentes agentes do setor permitiu ter uma visão bem mais abrangente da complexidade do negócio, para lá da paixão.
O trabalho das distribuidoras, de maior ou menor dimensão, é algo de inimaginável para o comum dos cinéfilos. Produtoras, distribuidoras internacionais, exibidores, parceiros, orçamentos, expetativas, clientes, receitas, campanhas de marketing, retorno, espetadores, cinéfilos, arte, negócio, trabalho. Cada um com a sua visão e estratégia, nem sempre alinhadas. É desta confluência de inputs que nascem as decisões, algumas meramente corriqueiras, outras tão significativas como Salas de Cinema vs. Direct-to-dvd.
Tudo isto a propósito de The Birth of a Nation, Billy Lynn’s Long Halftime Walk e Keeping Up with the Joneses.
Há dias, de forma inconsciente, retive a informação que estes 3 filmes não teriam direito a estreia nas nossas salas de cinema. Confesso que relativamente ao primeiro, já tinha obtido essa informação há algumas semanas mas ao constatar, em conjunto, o trio de direct-to-dvd pareceu-me merecido o devido destaque, individual.
The Birth of a Nation (O Nascimento de uma Nação)
Filme sensação do Festival de Sundance de 2016, cujos direitos foram vendidos por valor recorde durante o Festival. Estávamos em Janeiro. Um filme de reduzido orçamento mas com alguns nomes relevantes da indústria (Nate Parker, Armie Hammer, Jackie Earle Haley) agarrava espetadores e críticos durante a sua exibição no famoso festival. O designado #OscarSoWhite estava no auge e das montanhas de Utah um filme perfilava-se como o primeiro grande favorito aos Oscars deste ano. Grande Prémio do Juri e Prémio do Público era só o começo. Pelo menos era essa a História que se contava na altura.
Havia algumas reservas quanto à violência do filme – não que isso alguma vez tivesse sido problema nos Oscars – e quanto à temática, excessivamente corrosiva. E claro, 12 longos meses pela frente.
A História verídica do escravo que liderou uma rebelião contra a opressão racistas do Sul dos EUA era o ponto de partida para um ensaio sobre o poder, a liberdade e um país que, 150 anos depois, permanece inseguro de si mesmo.
Mas adoração foi perdendo chama até que, em meados do ano, o realizador, argumentista e protagonista se viu envolvido em questões legais, por assim dizer. O resto é a História que conhecemos. Perdida a batalha das Relações Públicas, esfumou-se a oportunidade de garantir novas nomeações e prémios. Sem o apelo dos prémios tornou-se impossível “vender” um filme tão profundamente dramático e violento. Independentemente da sua qualidade intrínseca. Será mais ou menos isto, pelo menos de quem “vê por fora”. Resta-nos esperar pelo DVD para tirar as nossas próprias conclusões. Para já, fica o trailer!
Billy Lynn’s Long Halftime Walk (Billy Lynn: A Longa Caminhada)
O filme de Ang Lee tem a sua própria História, ainda que no final a conclusão seja, no essencial, a mesma. Sem o apelo dos prémios, como se “vende” um filme que era suposto estar nomeado? Um filme duro e cru que apresenta um retrato psicologicamente violento da guerra e das suas invisíveis consequências. Um filme que fala muito (pouco) de heróis e pouco (ou nada) de vilões. Um filme que desmistifica heroismos e questiona a verdadeira essência da Guerra, em pleno séc. XXI.
Um realizador de renome a filmar de forma sempre precedentes. De forma a imergir o espetador no ambiente de Guerra que o filme retrata, o realizador de Taiwan optou por filmar a 120fps, 5 vezes superior ao que é normalmente utilizado na 7ª arte. No elenco, o protagonismo é assumido pelo estreante Joe Alwyn (que dá vida ao jovem Billy Lynn) mas o conjunto de secundários é incrível: Kristen Stewart, Chris Tucker, Garrett Hedlund, Vin Diesel e Steve Martin.
Recentemente chegado do Iraque, Billy Lynn é condecorado pelo exército norte-americano pelos feitos alcançados. Porém, o jovem adolescente está muito longe de se considerar um herói e à medida que a homenagem decorre no intervalo de um jogo de futebol americano, Billy revê todos os detalhe daquele dia fatídico.
Mesmo sem os preciosismos técnicos, fica a ideia de tratar-se de um filme bastante interessante. Para já, cá fica o trailer.
Keeping Up with the Joneses (Vizinhos Espiões)
Enquadramento totalmente distinto tem este Keeping Up Wth the Joneses. Nada de prémios ou assuntos sérios. O filme de Greg Mottola é “simplesmente” uma comédia de ação com um elenco fantástico. O realizador de Superbad, Adventureland e Paul pode não ser o mais rentável dos realizadores no mercado internacional mas quando temos um elenco formado pelo quarteto Gal Gadot, Jon Hamm, Zach Galifianakis e Isla Fisher é mais difícil de compreender a opção. Gadot está prestes a estrear Wonder Woman, Hamm é um dos mais valorizados atores de TV da atualidade (ainda que a sua passagem para a 7ª arte, não esteja a ser tão ligeira quanto expectável) e a dupla Galifianakis e Fisher é do mais competente que existe em termos de comédia made in USA.
No filme, Gal e Jon desempenham o papel de um casal de espiões que opta por mudar de vida e resignar-se à vida nos subúrbios. Zach e Isla são os vizinhos do lado, um casal bem disposto mas psicótico que é arrastado para os perigos da intriga internacional quando a identidade dos dois espiões é comprometida.
O que poderia ter corrido mal? Pela crónicas que temos lido, o filme tem algumas dificuldades em agarrar e convencer o espetador… e revelou-se um inesperado flop nas bilheteiras norte-americanas. Ainda assim, pelo trailer dá vontade de ver. Seguramente.
Nas próximas semanas, numa sala DE ESTAR, perto de si!