“100 Metros” de Marcel Barrena
Associar Dani Rovira ao “novo” cinema espanhol parece quase uma obrigação, por estes dias.
Depois do imenso sucesso de Ocho Apellidos Vascos (e da sua sequela), o ator de Málaga continua em grande e a justificar plenamente a chegada das suas películas ao mercado nacional.
Seguindo, um pouco, a imagem de jovem perdido no mundo (que tanto reconhecimento lhe gracejou na série Ocho Apellidos e, também, em Ahora o Nunca), Dani dá agora corpo a uma situação bem mais séria e real. Claro que a parceria com o basco Karra Elejalde – novamente a fazer de seu sogro – acaba por dar uma ligeireza e boa disposição precisas, a um assunto que tem muito pouco (ou talvez não) de humorístico.
Ainda assim, acaba por ser esse o lema do filme. A esclerose múltipla é uma doença degenerativa, sem cura, cuja evolução e impacto varia consideravelmente de caso para caso. Mas, como em tudo na vida, a postura é meio caminho para o sucesso e mesmo perante o cenário mais doloroso e imprevisível, encarar os problemas com um sorriso nos lábios nunca fez mal a ninguém.
Ramón Arroyo (Rovira) tinha pouco mais de 30 anos quando lhe foi diagnosticada a esclerose múltipla. A primeira reação de indiferença e repugnância foi rapidamente abalada pelo primeiro surto grave da doença que o obrigou a repensar o seu estilo de vida e os seus objetivos.
É nesse momento que surge o sonho de completar um IRONMAN, ou seja, um triatlo para Homens de barba rija e determinados. 3,8km de natação. 180km de bicicleta. 42km de corrida. Isto para um Homem que, no início dos treinos, apenas a muito custo conseguia completar… 100 metros.
Auxiliado pelo sogro (Elejalde), antiga lenda do ciclismo mas agora um homem amargurado pela vida, Ramón juntará a determinação à inqualificável relação que mantém (ou não!!) com ele, para se preparar da melhor forma possível. Pelo caminho aprenderão a respeitar as suas diferenças e a encarar a vida de uma forma diferente.
Confesso que é dos filmes mais emocionais e emocionantes que me recordo de ver nos últimos (largos) anos. O facto de ser baseado numa história verídica ajuda, mas a forma como o enredo é construído até ao clímax final – com maiores ou menores atropelos à realidade – é, sem dúvida alguma, delicioso.
Dani Rovira e Karra Elejalde combinam com inegável aprumo, concretizando uma afincada relação do gato e do rato. O ar goofy do primeiro quando confrontado com o aspeto mais durão e imaculado do segundo, resulta invariavelmente em momentos de boa disposição e de reflexão profunda sobre a vida e as relações humanas.
Para lá do alerta social e médico para uma doença imprevisível e lancinante, há toda uma dinâmica relacional e verdadeira que diverte e emociona… quase ao estilo do bom cinema norte-americano. Mas sem a necessidade de fazer voar a bandeira (com as riscas e as estrelas) ou enfatizar um qualquer ideal político-económico.
É um filme obrigatório para quem gosta de ir ao cinema para sentir. Para rir, chorar, ver e aprender. Para pensar dos problemas e na atitude perante a vida. Para viver.
E eram/são apenas 100 Metros.
Já agora, a Canção Original que dá melodia e (ainda mais) sentimento ao filme.