“O Jardim da Esperança (The Zookeeper’s Wife)” de Niki Caro
Se a propósito de Hacksaw Ridge escrevíamos que “parece infindável o rol de heroísmo perpetuados pelo exército (ou soldados) norte-americano durante a II Guerra Mundial, o mesmo se pode aplicar aos europeus e, sobretudo, à forma altruísta, solidária e simplesmente humana, como muitos arriscaram a própria vida para salvar dezenas, centenas ou milhares de judeus e demais perseguidos pela ideologia nazista.
The Zookeeper’s Wife relata um desses indescritíveis e admiráveis gestos de humanidade, levado a cabo por Jan e Antonina Żabiński. Jan era, na altura em que Varsóvia foi invadida pelo exército alemão, diretor do Jardim Zoológico local – um dos mais conceituados da altura – enquanto a sua esposa para além de uma afável relação com todos os animais do Zoo, ajudava-o nas suas tarefas quotidianas.
Porém, o seu normal dia-a-dia é brutalmente abalado pela Guerra e pelos atos abomináveis de uma ideologia discriminatória, xenófoba, racista e inumana. Primeiro os bombardeamentos que causaram o caos na cidade e no Zoo, danificando gravemente as instalações, dizimando muitos dos animais e libertando muitos outros que se “aventuraram” pelas ruas de Varsóvia.
Depois, as perseguições nazistas que culminaram com a criação do criação do denominado “Gueto de Varsóvia” para onde milhares de judeus e outros discriminados foram deslocalizados à força, sem grandes condições de vida sobrevivência.
Fruto das circunstâncias e da sua humanidade, Jan e Antonina (Johan Heldenbergh e Jessica Chastain) recolheram nas instalações do Zoo centenas de judeus que fugiam assim ao brutal destino que lhe reservavam as forças nazis. Durante dias, semanas ou anos, indivíduos ou mesmo famílias inteiras, permaneceram escondidos nas celas desabitadas dos animais enquanto aguardavam por uma nova localização.
Mas o filme de Niki Caro não se subjuga meramente às instalações do Zoo. Ao longo de 2h, o enredo percorre as ruas de Varsóvia, demonstrando o atroz contraste entre o simples mas seguro ambiente do Zoo e as indescritível condições de vida, especialmente vividas no Gueto.
A realizadora neo-zelandesa surgiu no panorama internacional no início do novo século com o surpreendente Whale Rider – que valeu à sua protagonista uma nomeação de Melhor Atriz aos Oscars®. Seguiu-se North Country – e nova nomeação para a sua protagonista, desta vez para Charlize Theron – e a “entrada” no universo hollywoodesco.
Surge, agora, The Zookeeper’s Wife… e não seria assim tão descabido se a sua protagonista almejasse nova nomeação.
Parece incrível que passaram meros 6 anos, desde que Chastain “nasceu” para a 7ª arte. Já com quase 35 anos e sem qualquer passado no cinema, a atriz californiana irrompeu pela indústria com um fulgor do tamanho do seu talento. 20 e poucos filmes e 2 nomeações aos Oscars® (The Help e Zero Dark Thirty) depois, restam poucas dúvidas que estamos perante um das grandes atrizes da atualidade. Contido, seguro, humano e magnânimo, o seu desempenho como Antonina ficará inegavelmente na carreira da atriz, como um dos seus momentos mais intensos e marcantes.
Palavra ainda para Daniel Brühl que volta a fazer com mestria o sempre difícil, e neste caso ambíguo, papel de oficial nazi com interesses zoológicos e convicções megalómanas.
Com alguns momentos dolorosos pela sua autenticidade e, sobretudo, pela inocência retratada, o filme dá a conhecer mais um episódio transcendente da II Guerra. E, claro, com atores desta craveira a emoção está, literalmente, à flor da pele.
Foi bom, mas doeu.