“Eu, Tonya (I, Tonya)” de Craig Gillespie
Até ao momento é, para nós, a grande revelação desta temporada dos prémios.
A história verídica já a conhecíamos – pelo menos “ao de leve” – mas a forma que Craig Gilliespie encontrou para a contar é, de facto, surpreendente e magistral. Fantástico trabalho do realizador e merecidíssimas nomeações aos Oscars® para Tatiana Riegel (Melhor Montagem), para Margot Robbie (Atriz Principal) e para Allison Janney, a mais que provável vencedora do Oscar® de Melhor Atriz Secundária. Uma atriz fantástica que “inventa” uma das melhores personagens do ano.
É deste quarteto – ao qual podemos somar (ainda que em menor dose) Sebastian Stan – que vive uma daquelas histórias que tinha mesmo que chegar à 7ª arte. O despique entre Tonya Harding e Nancy Kerrigan pelo título de melhor patinadora do gelo na década de 90 já era, do ponto de vista desportivo, um regalo para os admiradores da modalidade e do desporto em geral. O que aconteceu nos bastidores é algo realmente transcendente!
É verdade que temos direito, apenas, à versão de Tonya mas mesmo descontando um ou outro eventual abuso narrativo, dá para perceber que a História é efetivamente suculenta e inacreditável.
Gillespie, ao invés da corriqueira biografia, constrói um filme verdadeiramente merecedor da temporada dos Oscars®. Um filme que pega numa história inacreditável, mas verídica, e que dá lhe o verdadeiro tratamento cinematográfico, assumindo a liberdade necessária para deslumbrar o espetador e a coerência exigida para manter a “verdade” dos factos.
Encontramos Tonya (Robbie) já na casa dos 40, amargurada com o que a vida lhe reservou. Durante a “entrevista” acompanhamos os principais episódios e as principais personagens da vida da patinadora, ao longo de quase 3 décadas realmente intensas.
A sua mãe (Janney) como figura omnipresente e responsável única pela sua personalidade. O seu ex-marido (Stan) como responsável único pelo seu passado sombrio. E o inigualável Shawn (Paul Walter Hauser). Uma figuraça!
Como seria expectável todo o enredo nos leva ao fatídico incidente de Nancy Kerrigan nas vésperas dos Jogos Olímpicos de Inverno, de 1994. Mas até lá chegarmos somos presenteados com uma narrativa voraz, um argumento e uma montagem desafiadoras e alguns dos melhores desempenhos do ano.
Não será o filme – nem a história – mais convencional do mundo. Todavia, na nossa opinião, é o grande ausente dos nomeados ao Oscar de Melhor Filme.
Num ano em que Get Out quebrou barreiras e preconceitos, I, Tonya pode-se queixar de não ter recebido a mesma consideração. O Oscar® de Melhor Atriz Secundária não será suficiente para compensar a lacuna mas, de qualquer maneira, duvido que Allison Janney se sinta muito sentida com a situação.
Já o australiano Craig Gillespie, depois dos competentes Lars and the Real Girl e The Finest Hour, tem aqui o grande momento da sua carreira e merece, largamente, toda a atenção e consideração do espetador (comum). Indiferentemente do seu conhecimento do facto ocorrido nos anos 90, do desporto praticado pela protagonista ou de qualquer outro detalhe sobre a história.
Altamente recomendado!!