“15:17 Destino Paris (The 15:17 to Paris)” de Clint Eastwood
Tio Clint, as férias pela Europa devem ter sido fantásticas, pelos menos a avaliar pelas fotos… e pelo filme.
Esqueçamos, por um momentos a temática deste The 15:17 to Paris e, não menos importante, a recente ostracização a que Woody Allen tem sido alvo por parte da indústria de cinema norte-americana, e não podemos deixar escapar as evidentes semelhanças entre o trabalho do realizador nova-ioquino, no seu périplo europeu, e do consagrado ator/realizador californiano.
Os postais de visita da Europa, de Roma a Veneza, de Berlim a Amesterdão, ocupam a larga maioria do filme, enquanto os heróis de carne e osso revivem as suas míticas férias de Verão de 2015 que terminaram da forma mais imprevisível possível.
Sim, o realizador tenta contar a história dos 3 rapazes da infância até à vida adulta – ainda que sem grande preocupação ou critério – e filma com a habilidade que se lhe reconhece os principais momentos do atentado. Mas ambos servem apenas como “desculpa” para as referidas férias.
Há uma inegável e explícita noção de destino. Todo o filme é construído com o princípio de que algo “maior” vai acontecer aconteceu. Mesmo que a dada altura seja até exagerado – em função dos factos verídicos que o filme retrata – mas se os rapazes assim contaram a história quem somos nós para duvidar.
Os rapazes são Spencer Stone, Alek Skarlatos e Anthony Sadler três amigos de infância que seguiram rumos diferentes até se encontrarem nesse Verão de 2015 para umas merecidas férias em solo europeu. A proximidade dos factos e a autenticidade pretendida por Clint Eastwood para o filme, fizeram com que o trio de amigos, desempenhasse os seus próprios papéis, regressando, o ano passado, aos locais por onde passaram nessas férias.
É evidente e perfeitamente natural que os seus dotes como atores sejam limitados. Mesmo que o filme em forma de homenagem ao trio seja louvável, é muitas vezes estranho ouvi-los repetir as suas conversas e as suas ações. Sem a naturalidade de quem está a representar e sem autenticidade de um documentário, colocar pessoas “normais” a fazer delas mesmas é sempre um risco e uma aventura.
E, de facto, aventura não falta. O percurso do trio até se encontrarem em solo europeu tem o seu clímax logo no início, na escola preparatória, perdendo-se por completo no retrato aos anos seguintes. Felizmente a passear pela Europa faz bem a qualquer um e o filme ganha outra relevância á medida que se aproxima do atentado.
Tal como tinha sucedido com Sully, Eastwood, mais do que ninguém, tem a habilidade de construir um filme a partir de um episódio pontual. No caso da aterragem no Rio Hudson a “viagem” durava pouco mais de 208s. Desta vez não terão sido mais de 60s a mediar o início e o fim do atentado. Sem dúvida, os melhores segundos do filme!
Nem é à toa que The15:17 to Paris é o filme mais curto da carreira de realizador. Não há muito para contar e mesmo louvando-se o tremendo mérito e todo o talento do realizador de Gran Torino, Mystic River, Letters From Iwo Jima ou Million Dollar Baby, é fácil de perceber que a fasquia está nos píncaros.
Não deixa de ser um filme simpático mas o tio Clint é inegavelmente moço para outros voos.