“Pequena Grande Vida (Downsizing)” de Alexander Payne
Há público para uma comédia, dramática, recheada de sátira social e reflexão filosófica sobre os obstáculos que a vida mundana nos coloca que não esteja nomeado para os Oscars e que estreou em meados de Fevereiro?
Ainda que tendenciosa a pergunta destaca tanto as virtudes como os defeitos do mais recente filme do realizador de SidewayseThe Descendants (para nos ficarmos pelos filmes que lhe valeram estatuetas douradas). Mesmo sem expetativas quanto ao rumo da história – o que não quer dizer que não aguardássemos boas coisas do filme – não foi fácil acompanhar o raciocínio de Payne.
Vamos de sobressalto em sobressalto, tentando acompanhar cada um dos bruscos desvios da história que Alexander quer contar, sem qualquer rede de segurança ou convicção do que vai acontecer de seguida. Um pouco há imagem do que acontece na vida real mas, neste caso, um desconforto sem a capacidade de nos deslumbrar.
Matt Damon faz o seu trabalho. O seu Paul Safranek não podia ser um sujeito mais normal e afável. O clássico “vizinho do lado”, versão masculina.
Christoph Waltz continua a encontrar papéis à sua altura. Mesmo que a dada altura não consigamos compreender realmente de onde o seu Dusan Mirkovic veio ou para onde vai, quem não gostaria e ir com ele?
E depois há Hong Chau com uma das personagens mais pitorescas e “out of the box” do ano.
Por esta hora ja todos estarão ao corrente que o filme começa (e acaba?) a discutir os efeitos da sobrepopulação mundial. A solução encontrada por Alexander Payne é tão lógica como incrível e ter a capacidade para calçar os sapatos de qualquer um dos minorcas, já é meio caminho para sentir o filme.
Paul e a sua mulher Audrey (Kristen Wiig) não serão os mais prováveis candidatos ao Downsizing mas a tentação é realmente forte e se o altruísmo pode servir de justificação, a verdadeira razão é bem narcisista. Porém, a vida “do outro lado” é algo diferente do que eles estariam à espera. De uma forma amplamente imprevisível e desconexada, mesmo para quem possa ter antecipado os primeiros passos do argumento.
A história evolui de forma coerente mas totalmente inesperada. Vamos conhecendo outros mundos muito para lá das expetáveis piadas à la “Querida, Encolhi os Miúdos”. E, pelo meio, há algo de profundamente humano e indisfarçávelmente real.
Sim, Downsizing é um filme sério mas, também, é uma comédia de excessos e de manias. É um drama social e humano. É um filme à escala global, com protagonista com 10 centímetros.
Público, há.
Mas que é necessário ir de mente bem aberta, disso não tenham dúvidas!