“Madame” de Amanda Sthers
O momento leva-nos a Paris.
Se na cidade luz, é possível ser-se “feliz todos os dias”, com o cinema francês, especialmente o mais ligeiro, é difícil não sair contente da sala de cinema… todas as vezes.
Madame é, ainda assim, um caso sui generis desse ambiente harmonioso da cidade e do cinema francês. É, também, um reflexo da era global em que vivemos. Realizado por uma francesa, o filme tem nos principais papéis um norte-americano, uma australiana e, como protagonista, uma atriz espanhola. E, nada parece mais natural.
Rodado em França, mais propriamente em Paris e nos seus arredores, Madame reflete indubitavelmente todo o encanto e decadência do bourgeoise francês… e todas as peculiaridades de uma classe alta que vive das aparências, da imoralidade e de um código de conduta gasto, incoerente e prepotente.
A traição ou as amantes e os amantes fazem parte (ou pelo menos fizeram) da mais enraizada cultura francesa. Não será tanto uma questão de status ou de poder mas uma fuga (para a frente) do ambiente artificial que rodeia esse mode de vivre.
Amanda Sthers transporta essa desvirtude francesa para um casal norte-americano radicados na capital, cujo dia-a-dia é preenchido de rendez-vous, eventos sociais e facadas matrimoniais. O retrato, aparentemente, será o mais preciso e atual desse microcosmo decadente e poluto que popula os bairros nobres da capital francesa.
Apesar das latentes dificuldades financeiras que ameaçam o “palácio”, Anne (Toni Collette) não se incumbe de organizar mais uma singela soirée entre amigos, entre os quais se inclui o Primeiro-Ministro inglês, um jovem pianista prodígio ou a professora de francês do seu marido (Harvey Keitel). Mas quando o número de convidados confirmados se fixa nos 13, a anfitriã não tem outra solução se não, “obrigar” a governanta da casa (Rossy de Palma) a assumir o lugar de convidada.
Porém, Maria é tudo menos discreta e quando a sua naturalidade e secretismo encanta um dos convidados, o improvável romance irá brotar. Ou algo semelhante…
É a sociedade francesa totalmente a nu. Mais curioso e revelador é a espontaneidade com que personagens dos quatro cantos do mundo parecem encarnar esse estilo de vida. O desempenho dos atores só pode ser louvado e se o argumento avança de forma meticulosa, o desenlace encaixa que nem uma luva na narrativa utilizada.
Pode não ser uma grande comédia, ou um grande drama, mas Madame é o reflexo de um povo que tanto pode viver em Paris, como em qualquer outro cais por esse mundo fora.
Foi simpático.
Tal como Paris o cinema (ligeiro) francês já nos acostumou.