“Juliet, Nua (Juliet, Naked)” de Jesse Peretz
É um daqueles casos estranhos de género cinematográfico em desuso.
Será mais do que consensual a mágoa pela ausência de comédias românticas nas salas de cinema, atualmente. Ao ponto dos canais de streaming – que anteriormente apostavam quase em exclusivo em filmes visualmente ou narrativamente mais desafiadores – terem virado a sua atenção para o género.
O mais bizarro é que Juliet, Naked não é um filme qualquer. Senão vejamos.
Ethan Hawke, Rose Byrne e Chris O’Dowd são os protagonistas do filme e não se limitam a marcar presença. Cada um à sua maneira – por sinal, bem distintas – os 3 atores demonstram uma química e uma pertinência deliciosa e realmente preponderante para o desenrolar do filme.
Jesse Peretz pode estar mais à vontade na TV (Glow, Girls) mas não é propriamente um estreante – Our Idiot Brother será o mais conhecido – na 7ª arte. A comédia ligeira, percebe-se, é o seu palco predileto e este Juliet, Naked fica-lhe à medida,
E depois ainda temos Nick Hornby. A maioria perguntará: Quem?
Pois bem, o autor inglês traz o seu currículo os romances que deram origem a High Fidelity e About a Boy – para além dos argumentos de Wild ou Brooklyn. Mas foquemo-nos no seu trabalho literário. Quem já teve o prazer de ver os filmes mencionados, conhece a qualidade do escritor. A suavidade e naturalidade com que temas tão sinceros como o amor, a amizade ou a nostalgia ganham vida e corpo, ao bom estilo de um refinado Vinho do Porto vintage.
Annie Platt e Duncan Thomson (Byrne e O’Dowd, respetivamente) formam um banal casal britânico cuja relação é condicionada pela paixão de Duncan por um mítico (e pouco conhecido) músico norte-americano, cuja efémera carreira deixou as suas marcas profundas numa vasta legião de… cerca de 300 fãs.
Mas quando, por total acaso, Annie se torna amiga digital de Tucker Crowe (Hawke), a maior das improbabilidades por realmente vir a acontecer!
Independentemente da raridade de filmes do género ou da perda de importância do género, Juliet, Naked é um daqueles casos bizarros do cinema, dito, comercial. Filme de qualidade, agradável, bem humorado, sincero, com bons desempenhos, uma história inteligente e sincera… e apenas três mil e poucos espetadores, no nosso país, em 3 semanas de exibição.
Infelizmente o filme já não se encontra em exibição, nas salas de cinema nacionais. Mas não tardará, seguramente, a reaparecer no nosso quotidiano. Especialmente quanto, mais lá para o final do ano, os prémios (do cinema independente) voltaram a chamar por ele.
Afirmação de risco? Talvez.
Mas, por estes dias, não há muitos filmes ASSIM nas nossas salas de cinema!!