“ROMA” de Alfonso Cuarón
Antes de fechar o ano, ROMA.
Apesar dos condicionalismos impostos pela “guerra” entre a Netflix e as salas de cinema, chegámos a ROMA… numa sala de cinema!
Mais de um mês depois da sua estreia no nosso país e muitos prémios depois (incluído o de Melhor Realizador nos Golden Globes para Alfonso Cuarón ou o Leão de Ouro em Veneza) tornou-se quase uma obsessão assistir ao filme mexicano… numa sala de cinema!
O senão é que ROMA está longe de ser um filme para todos! Críticos e apaixonados pela (7ª) arte ficarão certamente maravilhados pela opção cinematográfica do realizador mexicano, da imagem a preto e branco, passando pelo ritmo narrativo bastante ponderado e contemplativo e acabando numa fotografia de eleição.
Já o comum dos cinéfilos vai, muito provavelmente, achar ROMA um pedaço de cinema bastante aborrecido. Demasiado parado, a lembrar esse expoente máximo do cinema português, de seu nome Manoel de Oliveira, sem intensidade ou ritmo, sente-se, a momentos, a agonia da dificuldade do filme em balancear a arte com a dinâmica do cinema dos nossos dias.
Um ano da vida de uma família da classe média mexicana, no início da década de 70. Foi este o propósito a que Cuarón se predispôs. Realização, Argumento, Montagem, Fotografia, Casting, Produção. O cineasta mexicano fez um pouco muito de TUDO, ou não estivéssemos perante um filme amplamente autobiográfico.
Cuarón é o menino irreverente de 10 anos que coloca de cabelos em pé, a sua ama e doméstica da família. Esta é a história da sua família e da sua Libo. Numa entrevista a sua irmão mais velha, referia que ROMA é, para eles, terapia familiar, com 45 anos de atraso. É esse o grau de autenticidade e realismo que Cuarón imprime neste retrato que é o seu mas que podia muito bem ser o de tantas e tantas famílias mexicanas, centro-americanas ou sul-americanas. Neste sentido são evidentes as semelhanças com O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, filme brasileiro de 2006 que ficou perto da nomeação aos Oscars.
São 12 meses de descobertas, amarguras, surpresas e traumas para uma vida. O foco está em Cleo (a estretante Yalitza Aparicio), a ama das crianças e doméstica principal da casa de Sofia (Marina de Tavira) e Antonio (Fernando Grediaga). Mas no início da década de 70, na Cidade do México, há uma mistura de conflitos sociais, culturais, políticos, económicos e pessoais que transformarão a vida de todos os elementos desta família!
ROMA está para esta temporada dos prémios, como Moonlight estava há um par de anos. Um filme em que a forma supera largamente o conteúdo, em que cada imagem e mensagem é detalhadamente trabalhada, custe o que custar. O “custo”, neste caso, é a paciência dos espetadores.
A homenagem a Libo é terna e sentida mas tal como cada entrada do carro da família na garagem, parece haver sempre algo no caminho…
Cuarón está, inevitavelmente, a caminho do seu 2º Oscar de Melhor Realizador (o primeiro foi por Gravity, filme pelo qual ganhou também o prémio de Montagem)… e do primeiro como Diretor de Fotografia.
Cada imagem (refinada) do filme é uma obra de arte. Já o filme, como um todo, nem tanto.