“Vice” de Adam Mckay
Se houve, este ano, Oscar que não teve qualquer contestação foi o de Caracterização (ou Maquilhagem e Cabeleireiro, como se diz agora)!.
Os desempenhos podem ser fantásticos. O argumento e realização de Adam McKay de grande qualidade, mas a forma como Bale, Adams, Carrell, Rockwell e Perry vestem a pele dos seus “sósias” é, de facto, extraordinário!
Depois de The Big Short, Adam McKay volta a colocar o dedo na ferida, num retrato realmente assustador de um homem que controlou os destinos do mundo durante quase uma década. E para o fazer, o realizador de Philadelphia utiliza todos os recursos à sua disposição, da comédia ao terror.
Na verdade, Vice segue um registo altamente bem-humorado, quem várias referências cómicas e inspiradores que aligeira a atmosfera em torno de um grupo de políticos inigualável. A questão, é que – a acreditar no argumento do próprio McKay – grande parte da História mundial do início deste século é assente em pressupostos nada dignos como a ganância, a arrogância, a avareza e a discriminação. Dá para rir, efetivamente, mas apenas porque é frequente as pessoas o fazerem perante situações realmente assustadores!
Dick Cheney, foi durante 8 anos, vice-presidente de George W. Bush. Mas, ao contrário do que seria norma nos EUA, Cheney não se limitou a algumas intervenções em termos de política internacional ou ecologia ou direitos humanos. Segundo reza a História o filme, o Vice puxava os cordelinhos em todos os assuntos realmente importantes, especialmente os que envolviam avultados interesses económicos ou geopolíticos. Ao mesmo tempo que lidava com uma saúde bastante vulnerável, marcada por vários ataques… cardíacos.
Christian Bale é Dick Cheney. E uma afirmação como esta nunca fez tanto sentido. Para lá das duas ou três primeiras cenas do filme, é impossível detetar as feições e os trejeitos do premiado ator, por detrás do papel. A caracterização e os quilitos a mais ajudam, mas o desempenho do ator oriundo do País de Gales é a todos os níveis fascinante.
A seu lado, Amy Adams chegou à mais que merecida 6ª nomeação aos Oscars (ainda sem nenhuma estatueta) no papel de Lynne Cheney e os igualmente talentosos Steve Carrell e Sam Rockwell não deixam, também, o seu crédito por mãos alheias, no lugar, respetivamente, de Donald Rumsfeld e George W. Bush.
Há evidentemente uma “agenda política” na obra de Adam McKay. Alguns dos factos parecem plausíveis, ainda que praticamente impossíveis de validar. Mas, claro, bastará que 10% do retratado seja verídico para a história – e o filme – serem realmente incríveis e tenebrosos. É este o tipo de homens que diretamente ou indiretamente nos (des)governam há largas décadas… com as consequências conhecidas.
Cinematograficamente, o filme cumpre com as expetativas criadas e residirá na crença que cada um tem na veracidade dos factos e das ações, a avaliação da sua qualidade intrínseca.
Mas lá que é assustador, disso não temos dúvidas.
E, há
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