“Greta – Viúva Solitária” de Neil Jordan
A história evolui tão vertiginosamente quanto a nossa perceção da qualidade do filme!
Mais do que uma vez o filme deixa a impressão que vai ser apenas mais um do género, mas, a cada vez, Neil Jordan faz questão de nos recordar que não estamos perante um realizador qualquer.
The Crying Game, Michael Collins e Breakfast on Pluto dirão pouco a uma nova geração de cinéfilos e mesmo o seu mais recente trabalho, Ondine, já estreou, entre nós, há quase 10 anos.
Está, portanto, de regresso às luzes da ribalta o realizador irlandês, e logo com um elenco bastante sugestivo, com pleno destaque para a veterana Isabelle Huppert e a jovem Chloë Grace Moretz.
Este duelo de gerações é, aliás, um dos pontos fortes do filme. Naturalmente que a maior experiência e, sobretudo talento, da atriz francesa dá-lhe total primazia durante a larguíssima duração do filme.
Huppert é inegavelmente uma atriz de mão cheia, uma vilã (se é que neste filmes temos heróis e vilões) indecifrável, implacável e poderosa. A multiplicidade de sentimentos que conseguimos sentir pela senhora, atesta a grandeza do seu desempenho no papel de Greta Hideg. Aliás, uns patamares acima do próprio filme.
Chloë cumpre a sua parte. Na maior parte do tempo totalmente absorvida pelo talento da sua contraparte mas, de quando em vez, acompanhando-a, revelando que o caminho se faz caminhando e se a jovem de Atlanta começou muito cedo a dar nas vistas (aos 13 anos em Kick Ass) tem, também, muito tempo para se aprimorar.
Frances McCullen (Moretz) leva uma vida simples em Nova Iorque. Partilha o loft da sua amiga (Maika Monroe), trabalha num restaurante de algum prestígio e tenta fugir a um passado recente demasiado doloroso.
É quando num dia como qualquer outro, encontra uma carteira perdida no metro. Impelida a devolver a mesma, Frances acaba por tornar-se amiga de Greta (Huppert), a peculiar dona da carteira que vive sozinha numa modesta habitação em Brooklyn.
Mas Greta, revelar-se-à bem mais do que uma mera viúva solitária!
É um filme modesto, simples mas incisivo. Duas atrizes mais dois secundários bastam para construir uma narrativa intensa, rematada por um desenlace inteligentes e coerente.
É verdade que, pelo meio, temos alguns momentos menos conseguidos, sobretudo a nível narrativo, mas habilmente compensados pelo talento de uma atriz, de facto, transcendente.
Não é todos os dias que vemos Isabelle Huppert nas nossas salas de cinema, umas vezes por culpa nossa, outras por desleixo do próprio circuito comercial nacional. E uma pena.
Quanto a Greta, vê-se bem.