“Le Mans ’66: O Duelo (Ford v Ferrari)” de James Mangold
Antes mesmo de entrarmos nas corridas, falemos de Bale. Christian Bale.
Empire of the Sun. American Psycho. The Dark Knight. The Fighter. Vice.
Sim, bastam 5 filmes para descrever uma das mais retumbantes carreiras cinematográficas da atualidade. E pensar que há menos de um ano, ele era Dick Cheney!
Mais do que a transformação física, é impressionante a forma como o ator britânico pode SER o vice-presidente norte-americano e, meses depois, Ken Miles, um dos maiores pilotos de todos os tempos. É verdade que a (r)evolução física ajuda, mas é necessário um talento imenso para “mudar a ficha” de forma tão radical.
Não bastasse, temos, também, Matt Damon. O ator de Good Will Hunting ou da saga Bourne pode não ser tão exuberante quanto o seu co-protagonista (tanto neste filme, como na maioria dos seus registos), mas isso não quer dizer que não estejamos ao mesmo nível de talento, competência ou desempenho. Damon controla a evolução do filme, dita o ritmo e deixa Bale explodir… mais ou menos em linha com a relação verídica entre Carroll Shelby e Ken Milles.
Efetivamente – e será isso que torna ainda mais estranho a escolha do título do filme no nosso país – o grande atrativo de Ford v Ferrari reside na relação de conflito estabelecida entre as duas marcas, em meados do século XX.
Mais do que o Duelo de Le Mans, em 1966, o posicionamento no mercado de ambas as marcas e a sua relação de forças, é um dos grandes case studies académicos sobre posicionamento, segmentação e (estratégia de) comunicação. A forma como duas marcas (ou mais) podem ser ambas líderes de mercado, no mesmo setor, é a prova maior de como não há apenas uma maneira correta de fazer as coisas. Neste caso, de produzir e vender automóveis!
Henry Ford II e Enzo Ferrari demonstraram-no de forma quase bélica. Porém, mais do que a disputa de dois colossos, Ford v Ferrari é a história de como a perseverança, a visão e o talento podem superar montanhas. Carroll Shelby acabou por ser o general desta guerra. E Ken Milles a sua lança afiada.
Eram inegavelmente outros tempos. Numa era em que a revolução automóvel, especialmente no que diz respeito aos carros de competição, era feita por tentativa e erro. A era da informática ainda estava a anos (ou décadas?) de distância, e os testes eram efetuados in loco, nos cockpits, nas estradas, no calor e no cansaço. Na vida real, muitas vezes sem redes ou planos B.
Nesses 16 meses, algo mudou para sempre, especialmente derrubou-se o mito da imbatibilidade. Para o fazerem, Shelby e Milles quebraram outras tantas barreiras, lutaram e trilharam um novo caminho. Quando a Ford o abordou para quebrar a hegemonia da Ferrari em Le Mans, Carroll (Damon) era já uma lenda, mas os meios e o desafio foram irresistíveis. Ken (Bale) para lá da sua impetuosidade, tinha um talento nato para conduzir e para detetar as mais ténues lacunas. Juntos, com recursos quase ilimitados, o céu era o limite.
O filme de James Mangold vibra com todas essas descobertas. Incessantemente com o pedal a fundo, não temos muito tempo para respirar ou contemplar. Ou quase. Ford v Ferrari é daqueles filmes destinados a uma sala IMAX (ou até 4DX). O nosso conselho é simples. A maior tela possível, o som das colunas mais alto e a certeza que ISTO é cinema!
Vibrante. Emocionante. Histórico.
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