“Um Dia de Chuva em Nova Iorque (A Rainy Day in New York)” de Woody Allen
E pensar que se ia perdendo (se é que não se perdeu, pelo menos na plenitude do seu potencial) uma das mais adoráveis obras de Woody Allen dos últimos anos…
O mínimo que posso dizer é que depois do Outono e do Inverno, ficou uma ternurenta vontade de voltar a Nova Iorque na Primavera.
Quem nos acompanha há mais tempo, sabe bem da intimidade entre os cartões postais que o cineasta norte-americano assinou nos últimos 15 anos e a nossa definição de espaço e tempo de lazer. E, ficou a plena sensação que pouco ou nada mudou. Vemos o MET, o Central Park, o Soho e a 5ª Avenida e só pensamos… em lá voltar!
Esse poder de atração (não confundir com o slogan do conhecido desodorizante!) é uma das marcas inegáveis da obra de Woody Allen, pelo menos neste século. A outra é a sua capacidade de (auto)ironia, de sarcasmo, de masoquismo. O protagonista fragilizado pela situação e pela (ausência) razão. O destino implacável e sádico. O humor refinado.
Allen tem esse terno condão de tornar cada história familiar e surpreendente, ao mesmo tempo. Reconhecemos o estilo, e ultrapassado a desconfiança inicial, deixamo-nos levar de ironia em ironia, de detalhe em detalhe, de cenário em cenário.
Gatsby (Timothée Chalamet) e Ashleigh (Elle Fanning) vão passar o fim-de-semana a Nova Iorque. A jovem do Arizona tem marcada uma entrevista com um dos mais famosos realizadores de cinema da atualidade e o jovem nova-iorquino não vai perder a oportunidade para mostrar à nova namorada, a “sua” cidade.
Mas, New York tem uma implacável vontade própria (é o próprio Gatsby que o afirma mais do que uma vez) e o plano inicial rapidamente se desvanece para dar lugar a outro “filme”.
Para além da dupla de protagonistas, como é apanágio da obra do realizador nova-iorquino, o elenco é composto de um conjunto de atores e reconhecida qualidade. Liev Schreiber, Jude Law, Selena Gomez (provavelmente a maior surpresa do filme), Diego Luna, Rebecca Hall ou Cherry Jones são alguns dos nomes que ajudam a compor uma daquelas histórias com camadas “infinitas”, mas que, por incrível que pareça, acaba por encerrar de forma harmoniosa e coerente.
Não sei se é caso para dizer que Nova Iorque não voltará a ser a mesma, até porque a Big Apple é uma daquelas cidades em constante mutação e evolução.
Mas é, seguramente, motivo para se compreender o seu apelo hipnotizante e matar um pouco da saudade.
Numa próxima Primavera, perto de mim…