“Retrato da Rapariga em Chamas (Portrait de la Jeune Fille en Feu)” de Céline Sciamma
Se o cinema fosse uma imagem (ou uma pintura) estávamos bem entregues.
Claire Mathon levou para casa o Cesar de Melhor Fotografia, e nada pode ser mais natural. Não só a forma como cada imagem reflete a história deste Portrait de la Jeune Fille en Feu, mas, mais ainda, a beleza intrínseca de alguns momentos que ficam, por si só, na retina do espetador.
Entre a dor da solidão e a doçura da descoberta, o filme de Céline Sciamma é um belo exemplo do velho romantismo clássico, dos amores impossíveis e intemporais. Vivemos e sofremos com a inocência do primeiro amor, com a alegria do primeiro amor, com a exuberância do primeiro amor.
É belo, desconcertante e visualmente retumbante.
Já a história é um pouco mais comum do que seria desejável. Um artista que se enamora pelas sua retratada é daqueles enredos com reflexos na História da Idade Média… aos dias de hoje.
O argumento, premiado pelo festival de Cannes, concretiza um crescendo de intensidade e paixão que deixaria antever um clímax bem mais original ou desconcertante. Ao invés, acaba por seguir a mais clássica das linhas narrativas, sem chama ou brilho.
Noémie Merlant é a pintora, talentosa mas incauta, que chega a um palácio inóspito em plena Bretanha, para pintar o retrato de uma jovem mulher. Héloïse (Adèle Haenel) está prometida para casamento, mas antes o seu abastado pretendente pretende um retrato para “conhecer” a sua “amada”.
Estamos no final do século XVIII e há toda uma cultura e uma raison d’être que ultrapassa qualquer ambição de liberdade. O que não quer dizer que não haja espaço para… Amar!
Foi Arte!
Faltou, quiçá, (algum) Cinema.