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“A Noite Passada em Soho (Last Night in Soho)” de Edgar Wright

Quem nos segue com o mínimo de regularidade, sabe da nossa profunda desconfiança face ao cinema de terror. Nada contra os tremendos fenómenos de bilheteira e crítica que vão pontificando nas salas de Cinema, mas não é género que nos encha as medidas.

Bem, a não ser que os filmes sejam realmente bons. Inteligentes. Surpreendentes. Aterradores. Bem feitos, por assim dizer.

Ora, Edgar Wright está longe de ser um indivíduo banal, e quando um filme seu vem com o crivo de qualidade do público, é porque há, de facto, algo ali para se ver. Seja em que género for.

E é assim que chegamos a Last Night in Soho. Mais aterrador do que estava à espera, confesso, mas sem aqueles exageros típicos dos filmes norte-americanos, a obra centrada no famoso bairro londrino é uma viagem em todos os sentidos da palavra. Viajamos no tempo, no espaço e metafisicamente.

Primeiro o bairro. Quem já lá esteve e percorreu as suas ruas mais singulares, conhece bem a mistura entre o clássico e o contemporâneo. Prédios centenários que tanto podem ser ocupados por lojas e Pub’s com décadas de história, como por espaços comerciais modernos e vanguardistas. Um espaço algo sombrio onde o brilho dos reclames, substituem agora os míticos néon’s dos anos 60. Nessa altura, como o filme tão bem retrata, o Soho era palco das mais míticas (e outras nem tanto) salas de espetáculo de Londres, num constante desequilíbrio entre o glamour e a podridão. Mas o filme leva-nos, também, para outro patamar, mais místico, onde o passado e o presente se encontram e influenciam o futuro num estilo digno dos melhores anos de M. Night Shyamalan.

Thomasin McKenzie e Anya-Taylor Johnson protagonizam esta história de paixão, sonhos e perdição. A primeira é Eloise, uma jovem aspirante a designer de moda que deixa uma cidade pequena da costa leste britânica para estudar numa das mais conceituadas escolas de moda londrinas. A segunda é Sandie, uma jovem aspirante a cantora que, nos anos 60 viu os seus sonhos transformados em pesadelos. Elas chegam quase a ser a mesma pessoa, especialmente a partir do momento que Eloise vê, no reflexo do espelho, o passado de Sandie.

O filme não é propriamente fácil de explicar, especialmente sem correr o risco de levantar a ponta do véu sobre os twists e reviravoltas que o tornam tão digno de ser visto. Mais do que essa sempre agradável sensação de surpresa, a maior alegria do argumento é realmente a noção que, no fim, tudo faz sentido. De forma inteligente, surpreendentes e aterradora!

E ainda assim, impele-nos a voltar.
Como se precisássemos de desculpa…

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