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“Notre-Dame em Chamas (Notre-Dame Brûle)” de Jean-Jacques Annaud

Parece que foi ontem que estávamos defronte da Notre-Dame…

De facto, numa sala IMAX, foi como se lá estivéssemos, tendo lá estado ou não.

Do ponto de vista visual foi realmente tudo muito bom. Estamos permanentemente no epicentro da ação, quase sempre lá no alto onde as gárgulas repousam, mas também nos gabinetes, nos postos de comando e quando necessário literalmente no interior da catedral.

Não digo que sentimos o que eles sentiram (talvez a sala 4DX ajudasse nesse capítulo) mas era difícil transmitir com maior pertinência o que aconteceu. Cinema do BOM!, com todas as letras, maiúsculas, e ponto de exclamação. Mesmo quem nunca tenha apreciado a beleza do edifício terá sentido seguramente a dor da perda irreparável!

Para mais, aquela que podia ser a principal lacuna do filme de Jean-Jacques Annaud é em verdade a sua maior valia. O filme que acompanha o fatídico dia 15 de abril de 2019, retratando com acutilância e algum sarcasmo os principais contornos do incêndio que destruiu quase 800 anos de história, em apenas algumas horas.

Mas, ao invés que pegar num herói a brandir a bandeira francesa, como o fariam seguramente os norte-americanos (naquele caso naturalmente com as suas 50 estrelas), Annaud mantém a câmara no eventos em si, centrando atenções no conjunto de barbaridades que levaram ao triste desenlace, ao mesmo tempo que premeia todos os heróis dessa tarde-noite sem a necessidade de individualizar a situação ou vilanizar os responsáveis.

Temos assim, pessoas normais a fazerem coisas extraordinárias. Pessoas reais e comuns que em boa verdade podiam ser qualquer um de nós. Sem (grandes) exageros, a narrativa segue tensa e compacta como a situação obriga, deixando os próprios acontecimentos e os seus intervenientes assumirem pleno controle.

E nós, pese embora a dor no momento, da destruição e da estupidez dos órfãos culpados, ficávamos por ali o tempo necessário até tudo se resolver. Vidrados, encantados e até certo ponto surpreendidos pela qualidade geral do filme, começando pelas cenas mais vigorosas e culminando no tom revelador (e sarcástico) de como a História é revelada.

Foi realmente muito bom!

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