“A Essência do Amor (To the Wonder)” de Terrence Malick
Confesso a minha estranheza perante a anterior obra de Terrence Malick, The Tree of Life era a momentos, pelo menos para mim, demasiado aborrecido e inconsequente. Cada todo, sua mania, pensava eu… a propósito do realizador de The Thin Red Line ou The New World.
Felizmente, o cineasta norte-americano abandonou finalmente os seus longos hiatos cinematográficos e meros 2 anos depois da sua última estreia, chega aos nossos cinemas To the Wonder, um filme bem mais comedido e, consequentemente, bem mais preciso e coerente.
Isto não quer dizer, de forma alguma, que Terrence tenha abandonado o seu estilo muito próprio e intimista, apenas achei bem mais direto e concretizável.
To the Wonder ou no seu título nacional, A Essência do Amor, é um filme que aborda efetivamente diferentes formas de se chegar a um sentimento mais puro e magnânimo. Seja o amor de uma mãe pela sua filha. O amor de um desconhecido que entra na sua vida. O amor de um homem pela sua paixão de infância. O amor de um padre pela sua vocação. O Amor…
Ben Affleck é um homem divido entre dois amores. Marina (Olga Kurylenko), uma mãe solteira que ele conhece em Paris e que viaja com ele de volta para os EUA e Jane (Rachel McAdams), uma antiga paixão de infância com quem ele cresceu no Oklahoma.
Temos, também, Javier Bardem um padre deslocado do seu habitat natural e que tarda em reencontrar a sua ligação a Deus.
Deste trio de histórias que se vão inter-cruzando pontualmente, nasce um belo e requintado conto sobre o mais puro dos sentimentos. Malick continua vago e romântico mas, em simultâneo, preciso e frio como só ele consegue ser. É esta mistura de ritmos e abordagens que torna o realizador do Illinois num homem à parte do mundo cinematográfico norte-americano.
Goste-se ou não do estilo, dúvidas não restam que se trata de um cineasta incomparável.
Senhor de uma sensibilidade incomum, é um deleite ver e, se possível, compreender a forma como Malick estrutura as suas obras e desenha na tela verdadeira arte!
Desta vez compreendi… e é bem melhor assim!
Nota final para as cenas rodadas em Paris e, sobretudo, no Mont Saint-Michel. Há um sentimento único que se vive ao visitar certos lugares no mundo e Malick consegue transmitir ipsis verbis o espírito que senti, pessoalmente, nesse lugar único da Normandia. Há momentos (de silêncio) que dizem bem mais do que mil palavras!
Avē Cæsar Malick.