“O Corpo da Mentira (Body of Lies)” de Ridley Scott
A principal conclusão a que se pode chegar depois de assistir à mais recente obra de Ridley Scott é que de facto sabemos pouco do que se passa no mundo. E que o mesmo se aplica a quase todas as personagens do filme!
Durante os anos da Guerra Fria a espionagem seria uma das actividades mais profícuas do mundo. A maioria não faria a mínima ideia de quem eles eram nem de como operava mas todos tinham a certeza de que eles existiam (e por todo o lado!).
Actualmente, a Guerra ao Terrorismo tornou esta “nobre profissão” em algo mais subtil, inconstante mas, também, mais terreno, exposto, brutal (de alguma forma perdendo o glamour de outros tempos), ajustando-se, de certa forma, ao novo “inimigo”!
De certa forma, é este o principal dilema entre a forma de operar de Roger Ferris (Leo DiCaprio) e Ed Hoffman (Russell Crowe).
O primeiro, agente no terreno, a operar no Médio Oriente, lida com a nova realidade (leia-se, com o novo inimigo) todos os dias. Conhece-o, estuda-o, acompanha-o diariamente. Compreende a sua cultura, a sua forma de operar, o seu raciocínio mesmo perante as suas acções mais irracionais.
Já Hoffman é uma velha raposa dos corredores de Washington especializado em iludir e manipular tanto “amigos” como inimigos. Produto da velha escola (mais cerebral e menos física), Ed não olha a meios (nem a pessoas) para alcançar os seus objectivos.
É, portanto, neste confronto de ideologias que 2 elementos da CIA gerem uma nova onda de ataques terroristas a algumas das mais importantes cidades europeias. O rasto do líder deste novo grupo leva-os a Omã na Jordânia, onde o enigmático responsável dos Serviços Secretos locais, Hani (Mark Strong), servirá de pêndulo entre os diferentes interesses em jogo.
Para além dos actores (e aqui devo incluir o desempenho de Mark Strong), nota muito positiva, também, para o realizador Ridley Scott, neste cruzamento eficaz entre Spy Game e Siryana (do 1º a relação entre os protagonistas, do 2º as movimentações no Médio Oriente).
Intenso, real e surpreendente serão alguns dos adjectivos a utilizar para classificar um filme de quem se fala poder chegar aos Prémios da Academia para os melhores do ano.
Coincidência (ou talvez não) o argumentista do filme é William Monahan – o mesmo de The Departed: Entre Inimigos.
Com isto não quero dizer que esteja ao mesmo nível da obra-prima de Scorsese mas ajuda a explicar mais um pouco, o porquê de tanta qualidade!