“Um Dia Perfeito (Un Dia Perfecto)” de Fernando León de Aranoa
Depois de Truman, o cinema espanhol volta a mostrar a sua (elevada) qualidade!
Goya de Melhor Argumento Adaptado na última edição dos prémios espanhóis, Un Dia Perfecto é, realmente, uma história fantástica! Simplicidade, acutilância, emoção, cuidado, carinho e autenticidade histórica, fazem-nos viajar para um tempo e um espaço que apesar de particulares será bem mais comuns do que o que queremos acreditar.
A Guerra dos Balcãs, muito provavelmente o conflito armado mais violento registado em solo europeu desde a II Grande Guerra, é o cenário encontrado por Fernando León de Aranoa – na adaptação do romance Paula Farias – para fazer um retrato real da dureza do pós-Guerra, através do olhar imparcial de um grupo de voluntários ao serviços das Nações Unidas.
Mas dureza não significa apenas drama e desolação. Há, igualmente, esperança, humor, loucura e sentido de dever comprido porque é nestas alturas, de implacável incoerência e injustiça, que o ser humano consegue surpreender.
Sem grandes alaridos visuais ou dramaturgos, o filme conduz-nos por entre o quotidiano de um pequeno grupo de voluntários da UN que se cruzam durante 24h nas montanhas – físicas e emocionais – de um país (a Bósnia Herzegovina) devastado por uma Guerra medonha, indescritível e devastadora… como todas as outras, necessariamente.
Apesar do modesto orçamento, Un Dia Perfecto conta no seu elenco com nomes como Benicio del Toro (Traffic, Sicario), Tim Robins e Olga Kurylenko, para além de Mélanie Thierry, Fedja Stukan e do jovem Eldar Residovic, num elenco digno das próprias Nações Unidas.
Ao leme, o realizador espanhol Fernando León de Aranoa, vencedor de 2 Goya‘s de Melhor Realizador, o mais recente por Los lunes al sol, melhor filme espanhol em 2002.
Ninguém de muito famoso, é verdade, mas de imenso talento, como se pôde comprovar.
O maior trunfo do filme está na simplicidade como aborda temas sensíveis e muitas vezes esquecidos (com demasiada facilidade) de forma coerente, competente e real. Não custa a acreditar – bem pelo contrário – que algo similar possa ter realmente ocorrido naquela região ou em muitas outras onde a Guerra deixou a(s) sua(s) marca(s).
Pessoas, situações, dilemas e soluções bem reais.
Com momentos perfeitamente distintos. Bons, maus, angustiantes e esperançosos, como o de qualquer dia (perfeito).
Cinema de qualidade que merece ser visto e reconhecido numa sala de cinema.