“Heleno” de José Henrique Fonseca
Brasileiro é um povo apaixonado por futebol. O povo português também. Tive o privilégio de morar ao lado do estádio do Dragão enquanto residia na saudosa cidade do Porto. Futebol é um esporte alicerçado não na razão, mas sim na paixão, na irracionalidade e na polêmica.
Todas essas características e atributos são personificados na figura de Heleno de Freitas, personagem real do longa-metragem do diretor José Henrique Fonseca que narra à trajetória do controverso jogador de futebol do passado. Como sou aficionado pelo esporte não poderia me furtar de assistir a obra.
Este craque do Botafogo (tradicional time carioca) marcou época no futebol brasileiro, em um tempo remoto em que boleiros usavam grandes cordões de ouro por baixo dos mantos sagrados que vestiam. Para enfatizar o passado o diretor toma a corajosa decisão de filmar todo em preto e branco. O resultado é um Rio de Janeiro belo e que representa com mais legitimidade a história de Heleno de Freitas. Um esportista mulherengo e egocêntrico que vivia intensamente dentro e fora dos gramados. Viveu um triângulo amoroso com duas belas jovens e, de tão intenso as duas relações, não conseguimos definir quem ele mais amava: ele mesmo ou as mulheres de sua vida. Dinheiro, brigas, mulheres, glamour e uma personalidade muito forte compuseram a fórmula explosiva que o levou a um desfecho infeliz.
Além da expressividade da direção de arte e da fotografia, outro aspecto marcante é a performance do ator Rodrigo Santoro que encarna Heleno. É um dos seus melhores trabalhos no cinema. Domina o excêntrico personagem do início ao fim da trama. Por trás dos óculos escuros (acessório muito utilizado pelo protagonista) vemos o grande trabalho corporal que o experiente ator brasileiro teve.
Comove o público, já na parte de decadência de seu personagem, mostrando o final de vida triste daquele homem que um dia foi considerado um dos melhores jogadores de futebol do Brasil e que levava multidões aos estádios.
A crítica fica por conta de um roteiro um pouco confuso. As idas e vindas ao passado e presente do jogador ajudam a contar essa história, porém, em algumas partes confundem um pouco o espectador. Não que se corra o risco do filme ficar maçante, mas certamente irá demandar um olhar mais atento por parte do cinéfilo.
Entre gols, cinturinhas e cadillacs, recomendo assistir Heleno, a história do homem que raramente tirava o cigarro da boca (geralmente cigarros duplos) e que, mesmo assim, encontrava fôlego para tirar o fôlego das multidões.