“O Miúdo da Bicicleta (Le Gamin au Vélo” de Jean-Pierre e Luc Dardenne
Desde Janeiro tínhamo 2 filmes em carteira que em virtude da enchente de cinema que íamos assistindo acabaram por ficar sem comentário. Já noutras ocasiões tentamos avançar com a sua crítica… só agora foi possível. Um deles é este Le Gamin au Vélo.
Rotulado de um dos melhores filmes europeus do ano (com direito a prémio em Cannes!), a última incursão dos irmãos Dardenne pelo mundo do cinema – e pelo quotidiano belga, em particular – deixa um forte amargo de boca.
Confesso que tratou-se da minha primeira experiência Dardenne no cinema. Resultado disso ou, talvez, das altas expectativas criadas, saí da sala de cinema desiludido com o que tinha acabado de (vi)ver.
Louva-se o retrato humano, especialmente no que se refere ao jovem menino e à sua mãe de acolhimento, porém falta demasiada coerência a um filme que se cinge, por completo, à sua vertente emocional, esquecendo qualquer faceta racional.
Demasiadas vezes o comportamento dos protagonistas é altamente discutível, faltando verticalidade em muitas das suas acções, não bastando a emoção para as explicar em exclusivo.
Cyril (Thomas Doret) é um jovem menino que vive num “orfanato” desde a morte da sua mãe. Cheio de dor e revolta, Sebastian procura incessantemente pelo seu pai, esperança última da sua idealizada felicidade. A única pista para o encontrar – que partiu para parte incerta – reside na sua bicicleta… objecto de adoração do menino e elo de ligação restante ao seu passado recente com o pai.
É num desses acesos de raiva e esperteza que Samantha (Cécile De France) irá conhecer Cyril. Esta mãe de acolhimento tudo fará para presentear o menino com um lar acolhedor… mesmo que ele não reconheça, minimamente, o seu esforço e dedicação.
Desta inesperada relação irá emergir uma importante lição de vida… e um telefilme competente.
Le Gamin au Vélo será um exemplo seguro de um filme que funcionará bem melhor no conforto do lar do que propriamente numa imensa sala de cinema. Falta-lhe dimensão, falta-lhe intelecto, falta-lhe preciosismo.
Com outras expectativas e outro enquadramento, acredito piamente que o filme funcionasse muito bem, especialmente perante um público que valorize (quase em exclusivo) a componente emocional do cinema.
Tinha acabado de ver Martha Marcy May Marlene quando assisti a este Le Gamin au Vélo. Não tenho a menor dúvida que tratou-se do mais decepcionante dia do inverno passado, cinematograficamente falando.
Tratava-se de dois dos mais badalados filmes independentes da season. Louvados pela capacidade inata em mexer com as emoções do mais comum dos seres humanos. Infelizmente passaram-me, ambos, ao lado!
E melhores dias seguiram-se, indiscutivelmente!
Quanto ao bilhete… ossos do ofício de um cinéfilo, em tempos de crise!
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