“Um Reino Unido (A United Kingdom)” de Amma Asante
Uma bela História que ganha vida através dos poderosos desempenhos de David Oyelowo e Rosamund Pike.
O ator inglês já tinha dado nas vistas ao desempenhar Martin Luther King no premiado Selma, em 2015, e continua a dar provas de um imenso talento, força e determinação com mais um retrato poderoso, baseado numa figura incontornável da história africana. Seretse Khama pode ser um desconhecido para a larga maioria de nós mas depois de A United Kingdom a sua história de vida fará eco em muitos livros de história e de cinema.
Pike não lhe fica nada atrás. É verdade que já a “conhecemos” dos tempos de Bond(-girl) – Die Another Day – ou mais recentemente de Gone Girl mas a sua Ruth Williams promete ficar, igualmente, na memória de todos. Não só pela sua determinação mas, sobretudo, pela coragem demonstrada no mais inóspito dos cenários.
Amma Asante que deu nas vistas com o premiado Belle, volta às luzes da ribalta com nova realização plena de relevância (histórica), precisão e acutilância. Não passaram assim tantos anos – pouco mais de 50 – desde que um negro casou com uma branca e causou um dos maiores embaraços diplomáticos da História recente. A conservadora Inglaterra, o pós-guerra, o surgimento do Apartheid e um homem e uma mulher que se apaixonam, são o epicentro de uma incrível história (de perseverança).
Finais dos anos 40. Seretse (Oyelowo) conhece Ruth (Pike) em Londres, onde se encontra a estudar Direito. Mesmo perante o mais desprezível dos preconceitos, dentro das respetivas famílias e oriundo das mais altas patentes do Estado Britânico, eles decidem enfrentar tudo e todos e casar. Para além do selvático preconceito de parte a parte, há um detalhe que amplifica o impacto mediático da sua união. Seretse é o herdeiro do trono da Bechuanaland (mais tarde Botswana), na altura um proteturado britânico, a norte da África do Sul. Seguir-se-ão anos de luta contra o preconceito e pela igualdade e liberdade do ser humano, independentemente da cor da sua pele.
É um filme de fortes contrastes. A fria e cinzenta Londres em contraste com a quente e dourada planície africana. O bárbaro preconceito e a incessante procura de igualdade e liberdade. O Amor e o Ódio. A esperança e a resignação. A chuva e o pó. A prepotência e a simplicidade.
Em nome do seu Amor, um casal ousou desafiar um Império, um regime segregacionista e racista e um povo simples mas tradicionalista. Foram anos e anos de luta e perseverança que um filme soube transpor para a tela de forma contundente e fraterna.
Para além dos desempenhos e da qualidade da realização, destaque para os cenários e para o trabalho de fotografia. Ter filmado in loco (por exemplo as cenas na casa de Seretse no Botswana foram filmadas precisamente na sua casa, assim como as cenas do hospital) ajudou bastante a transmitir a autenticidade necessária para um projeto louvável e apaixonante.
O Amor pode tudo. O Amor pelo próximo. O Amor pelo seu país. O Amor pelos seus ideais. O Amor pela justiça, pela igualdade e pela liberdade.
Cinema com sentimento e que faz sentido.
Bravo!